Elzo Savella
A preocupação com o meio ambiente, entendido
como o meio natural ou artificial que sustenta a vida, é relativamente recente
no período contemporâneo da história da humanidade: aproximadamente uns cinquenta
anos. Muito pouco, se considerarmos que o início da Revolução Industrial, que
aumentou consideravelmente o poder do homem de exploração e destruição da
natureza, já está perto de completar 250 anos!
Anteriormente a esse período podemos encontrar
algumas referências de amor à natureza e desejo de que ela seja preservada em
textos religiosos ou filosóficos. A Bíblia já faz referências ao valor sagrado
da natureza, criação de Deus. Textos Vedas na Índia já demonstravam preocupação
com a preservação da natureza, assim como, também, escritos budistas. Já uma
referência de amor à natureza e seus elementos é São Francisco de Assis, com
seu Canto ao Irmão Sol ou Canto das Criaturas, onde louva o Criador e todas as
criaturas da natureza.
Saindo do meio natural para o artificial, a
humanidade aprendeu muito sobre saneamento com a peste negra – que dizimou
aproximadamente um terço da população européia no século XIV – ocasionada pela
proliferação de pulgas e ratos devido à falta de higiene e saneamento básico
nas cidades medievais. Muito
antes disso, Hipócrates, na Grécia antiga, no século V a.C., em sua obra Dos Ares, das Águas e dos Lugares, já
havia relacionado os aspectos ambientais com a saúde pública.
Na filosofia vamos encontrar em Rousseau, na
França do século XVIII, os fundamentos, inspirados na natureza, de uma crítica
à sociedade humana que produzia todos os males que degeneravam o homem. O bom e
puro era o homem natural, ainda não contaminado pelos males da civilização.
O que parece corroborar com essa idéia é a
carta enviada ao presidente dos Estados Unidos da América pelo índio Chefe
Seatle em 1854. Nesse documento o chefe indígena produz um dos mais belos e
profundos manifestos em defesa do meio ambiente de todos os tempos. Alerta o
homem branco sobre a exploração predatória da terra, fala dos malefícios do
desmatamento, da dizimação dos animais e das conseqüências dessa degradação
para o homem e para as futuras gerações. Demonstra profundo conhecimento das
leis da natureza e das ligações que existem entre todos os elementos que
sustentam a vida.
Mas a partir da Revolução Industrial, com o
desenvolvimento de novas tecnologias que permitiram o aumento da produtividade
e a produção em grande escala, que se deu um grande impulso ao capitalismo e à
idéia de que a natureza deveria ser subjugada e posta a serviço do lucro;
explorada sem limites e sem se medir as conseqüências, como se os recursos
naturais fossem inesgotáveis. Aí começaram os grandes problemas ambientais de
nosso tempo.
Um marco do ambientalismo moderno foi o livro
Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Publicado em 1962, a obra, que alertava
sobre o uso de pesticidas e seus efeitos sobre a dizimação da fauna,
principalmente os pássaros, causou grande impacto na comunidade científica e na
opinião pública. A partir daí, nos anos sessenta, se iniciou a tomada de
consciência do processo de degradação em que se encontrava o ambiente humano e
o Planeta Terra.
Esse processo fez com que a ONU realizasse no
ano de 1972, em Estocolmo, a Primeira Conferência das Nações Unidas Sobre Meio
Ambiente, da qual surgiu a Declaração Sobre o Meio Ambiente e onde foi
instituído o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado desde então em 5 de junho.
A partir de então várias conferências vêm sendo realizadas, sendo a mais
importante de todas, até agora, a que aconteceu no Rio de Janeiro em 1992, a
Rio 92, e onde se discutiu o conceito de desenvolvimento sustentável.
Recentemente a Rio+20, em 2012, apesar da grande expectativa que gerou, deixou certa
frustração com seus tímidos resultados.
O Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado
para que reflitamos sobre o que estamos fazendo e que mundo queremos deixar
para as futuras gerações. Se vamos buscar resolver agora os problemas e danos
causados ao meio ambiente ou vamos transferi-los maiores ainda aos nossos
filhos.
O importante neste 5 de junho é colocar na
balança o que aconteceu de ruim e de bom nos últimos tempos em termos de meio
ambiente, para que possamos ter consciência do que podemos ou devemos fazer.
Pelo lado ruim podemos ver degradação
ambiental, poluição, devastação de florestas, perda da biodiversidade com
dizimação e extinção de espécies, redução da água doce disponível e, o assunto
do momento, o aquecimento global com as consequências das mudanças climáticas:
furacões, enchentes, desertificação, recuo das florestas, derretimento das
geleiras, e os impactos sociais, como fome e pobreza, e de perda de qualidade
de vida que tudo isso acarreta.
Pelo lado bom podemos constatar que a
preocupação ambiental permeia a sociedade. Cidadãos começam a mudar hábitos de
consumo em busca da sustentabilidade, nas escolas está se implantando a
educação ambiental, a mídia trata com destaque e seriedade os problemas
ambientais, importantes empresas praticam a gestão ambiental e possuem
políticas de sustentabilidade, a comunidade científica nos apresenta
significativos avanços nos estudos de reversão dos problemas ambientais; e os
governos começam a demonstrar não somente discursos de preocupação e
sensibilidade, mas políticas públicas efetivas na área ambiental que, apesar de
tímidas e com pouca destinação de recursos, já são um começo.
Estamos apenas começando a caminhar na
direção de novos paradigmas de desenvolvimento econômico e social, baseados na
sustentabilidade e no respeito à vida e ao meio ambiente. Quem sabe com um
sistema e um modo de produção menos predatório, menos baseado no consumismo e
no lucro, e mais nas reais necessidades das pessoas!
Temos o que comemorar? Depende do pessimista,
do otimista ou do realista. Mas, de qualquer forma, o importante é arregaçar as
mangas e fazer alguma coisa!
Elzo Savella é professor,
ambientalista, gestor ambiental, especialista em gestão socioambiental, mestre
em sustentabilidade. savellax@gmail.com