ARTIGO
Publicado no jornal Folha de Votorantim de 21/03/2015
Elzo Savella
Elzo Savella
São 934 km² de área protegida, 27 km²
de espelho d’água, 26 km de extensão, 192 km de margens e 290 milhões m³ de
água, além de peixes, matas, terras férteis e belezas naturais. De outro lado
são 850.000 pessoas abastecidas com água, 150 GWh de energia elétrica gerada por
ano, áreas agrícolas irrigadas, criação de gado, pesca e esportes náuticos.
Isso é Itupararanga, o mais importante manancial de nossa região.
Itupararanga não é só a barragem ou o
lago da represa, é todo o seu entorno formado pela bacia de drenagem de suas
águas. São inúmeros ribeirões, córregos e nascentes que, com o rio Sorocaba, mantém
o nível de reservação da represa. Toda essa área, que abrange oito municípios,
é uma Unidade de Conservação, a APA - Área de Proteção Ambiental de
Itupararanga, criada para proteger seus recursos hídricos.
Mas nem tudo são maravilhas no
paraíso! Apesar de seu imenso potencial em recursos naturais e da proteção
legal, a área vem sofrendo forte degradação ambiental provocada por despejo
indevido de esgoto, ocupação imobiliária irregular, desmatamento com remoção das
matas ciliares, supressão de nascentes, agricultura com técnicas inadequadas, uso
indiscriminado de agrotóxicos, captação de água sem outorga e pesca predatória.
São fatores de pressão que vêm comprometendo a qualidade e a quantidade das
águas da represa. Vale lembrar que esses problemas, atualmente, não ocorrem de
maneira significativa em Votorantim, sendo que a área mais preservada de
Itupararanga é a que se encontra dentro de nosso município.
Algumas medidas foram tomadas por parte do Estado:
criação da APA em 1998; a instalação do Conselho Gestor da APA em 2004, que na
prática é um fórum de discussão dos problemas de Itupararanga; aprovação do
Plano de Manejo em 2011, que é uma espécie de plano diretor da área. Mas tudo
isso parece ficar só no papel e em reuniões. Pouca ação concreta resultou
dessas iniciativas que trouxesse resultados efetivos para a proteção dos
recursos hídricos como se pretendia. Efetivamente, apenas o Município de
Votorantim vem desenvolvendo ações de reflorestamento das áreas ciliares da
represa em seu território.
Recentemente, nos anos de 2012 e 2013, um grupo de
pesquisadores de universidades e de organizações ambientalistas realizou um
amplo diagnóstico das condições de conservação da APA. A constatação, além dos
problemas já citados, foi a queda da qualidade das águas, já acusada
anteriormente pela CETESB, que oscilaram entre regular e boa.
Com a forte estiagem que assolou a região Sudeste em
2014, o nível de reservação da represa chegou próximo a 35% (hoje já está em
45%). Uma visão aterradora. Essa estiagem pode ter sido atípica ou consequência
das mudanças climáticas. Ainda não sabemos como o clima de nossa região vai se
comportar nos próximos anos, mas o que se pode constatar é que os problemas de
Itupararanga são antigos e crescentes e estão reduzindo o volume de água na
bacia.
Um número pode comprovar essa redução ao longo do
tempo: quando a usina entrou em operação em 1914, a represa conseguia regular a
vazão média do rio em 11m³/s; hoje a vazão é de 9m³/s, ou seja, houve uma
redução de aproximadamente 20% na “produção” de água. E essa perda deve ser
recente, pois até os anos 70 a usina trabalhava com sua capacidade máxima
instalada, “virando” as quatro turbinas. Hoje é difícil ver mais que uma
turbina trabalhando. Não há água suficiente.
Enquanto muitas cidades, inclusive de
nossa região, já começam a enfrentar o problema da escassez de água, nós ainda
temos o privilégio de desfrutar do que nos oferece tão generoso manancial, que,
apesar das agressões, ainda está em boas condições de conservação e qualidade
das águas. Mas até quando? O que podemos fazer?
Sem dúvida cabe ao Poder Público,
estadual e municipal, executar as ações que dependem de recursos, mas cabe
principalmente à sociedade compelir os governos para que se movam nesse
sentido. A sociedade deve se mobilizar, exigir ações concretas, contribuir com
o debate e, através de seus representantes e entidades, assumir
responsabilidades compartilhadas na busca de soluções. Mecanismos para isso
existem!
Cada cidadão deve se informar, participar,
conhecer os problemas, se tornar um fiscal e, numa atitude de coerência, adotar
medidas para economia de água em sua casa e no seu trabalho. Saber que por trás
da torneira que nos dá água em abundância, existe uma rede de distribuição,
estações de tratamento e o manancial que nos fornece a água. Saber que tudo
isso tem um custo econômico, social e ambiental.
Que o Dia da Represa de Itupararanga
nos leve à reflexão, para que cada um de nós saiba encontrar o seu papel na
preservação desse manancial que nos garante a vida hoje, possa continuar
garantindo a das futuras gerações!
Elzo Savella é professor, historiador, ambientalista, gestor
ambiental, mestre em sustentabilidade, membro do Conselho Gestor da APA de
Itupararanga. savellax@gmail.com