terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ITUPARARANGA: O QUE FAZER E QUEM DEVE FAZER?

ARTIGO
Publicado no jornal Gazeta de Votorantim de 29/11/2014

Elzo Savella

Com a região Sudeste assolada por uma estiagem jamais vista em sua história e, como consequência, a crise hídrica que atinge principalmente o Estado de São Paulo, é natural que nossas preocupações se voltem para o nosso principal manancial: Itupararanga. De fato, a visão atual do reservatório é aterradora. Podemos estimar o nível em aproximadamente 40% da capacidade de reservação. É muito baixo, mas segundo os gestores do sistema está dentro da média histórica.

A estiagem atual pode ser atípica ou consequência das mudanças climáticas. Ainda não sabemos como o clima de nossa região vai se comportar nos próximos anos. Mas o que sabemos é que os problemas em Itupararanga são antigos e crescentes: desmatamento, supressão de nascentes, ocupação imobiliária, uso inadequado do solo, erosão, poluição, captação irregular de água, agricultura com técnicas inadequadas. Tudo contribuindo para a redução da quantidade e da qualidade da água na bacia da represa. Se isso continuar, com certeza a água vai faltar.

Um número pode comprovar essa redução do volume de água ao longo do tempo: quando a usina entrou em operação em 1914, a represa conseguia regular a vazão média do rio em 11m³/s; hoje a vazão é de 9m³/s, ou seja, houve uma redução de aproximadamente 20% na “produção” de água. E essa perda deve ser recente, pois até os anos 70 a usina trabalhava com sua capacidade máxima instalada, “virando” as quatro turbinas. Hoje é difícil ver mais que uma turbina trabalhando. Não há água suficiente.

Algumas medidas foram tomadas por parte do Estado: criação da APA – Área de Proteção Ambiental de Itupararanga em 1998; a instalação do Conselho Gestor da APA em 2004, que na prática é um fórum de discussão dos problemas de Itupararanga; aprovação do Plano de Manejo em 2011, que é uma espécie de plano diretor da área. Mas tudo isso parece ficar só no papel e em reuniões. Pouca ação concreta resultou dessas iniciativas que trouxesse resultados efetivos para a proteção dos recursos hídricos como se pretendia. Efetivamente, apenas o Município de Votorantim vem desenvolvendo ações de reflorestamento das áreas ciliares da represa em seu território.

Recentemente, nos anos de 2012 e 2013, um grupo de pesquisadores e ambientalistas realizou um amplo diagnóstico das condições de conservação da APA. A constatação, além dos problemas já citados, foi a queda da qualidade das águas, já acusada anteriormente pela CETESB, que oscilaram entre regular e boa.

Como vimos, as causas do problema todos nós sabemos. As soluções também: reflorestamentos, proteção das nascentes, uso ordenado do solo, redução da perda de água na rede de distribuição, fiscalização, uso racional, enfim, sabemos o que fazer. Só preocupação não basta, são necessárias ações concretas que tragam resultados. Mas quem deve fazer? Sem dúvida cabe ao Poder Público, estadual e municipal, executar as ações que dependem de recursos, mas cabe principalmente à sociedade compelir os governos para que se movam nesse sentido. Somente uma ampla mobilização da sociedade criará as condições para que se inicie um processo com a participação de todos os atores interessados e responsáveis pela conservação de Itupararanga com resultados realmente concretos.

Elzo Savella é professor, historiador, ambientalista, gestor ambiental, mestre em sustentabilidade, membro do Conselho Gestor da APA de Itupararanga. savellax@gmail.com


Um comentário:

  1. Infelizmente o gerenciamento desse problema e todos os demais que se avultam têm sua origem na ineficiência das ações governamentais federais, cujas preocupações tem um escopo a curto prazo. O desmazelo desse Governo instaurado só nos mostra que os próximos 20 anos seremos assolados por privações e retrocessos que nos colocarão de volta aos anos 80. Ações sociais paliativas são a bandeira que estiva o objetivo principal da Federação do país hoje, porém, a infraestrutura degradada criará cada vez mais problemas incontornáveis, os quais, daqui a décadas, mostrarão seus efeitos, os quais, com inércia, chegam sempre a posteriori, mas com efeitos catastróficos.

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