ARTIGO
Publicado no jornal Folha de Votorantim de 3 de setembro de 2015
Elzo Savella
Surgido no início da década de 1960,
no contexto dos movimentos de contracultura, o moderno movimento ambientalista
avançou bastante em termos de organização e conquistas, não obstante nossa
civilização continuar na rota desastrosa do produtivismo/consumismo exaurindo
os recursos naturais e degradando o planeta. Embora no final do século XIX já
existissem movimentos preservacionistas e conservacionistas em muitos países, é
nos anos 60 do século passado, juntamente com os movimentos pacifista,
feminista, hippie, estudantil, que o movimento ambientalista começa a se
organizar e a ganhar força.
Desastres ambientais, poluição -- como
o grande fog/smog de Londres em 1952 --, contaminações -- como da Baía de Minamata
em 1956 --, pesticidas agrícolas -- denunciados no livro Primavera Silenciosa
da bióloga Rachel Carson em 1962 -- começam a inquietar amplos setores da
sociedade, em especial nos países industrializados, criando as condições para
organização de movimentos naquela época ainda chamados de ecológicos.
As pressões dos movimentos sociais e
do meio acadêmico levam a ONU a organizar em 1972 a Conferência Sobre o Meio
Ambiente Humano, em Estocolmo. Essa conferência é um marco do início e avanço
das discussões e ações dos governos, academia e sociedade civil em termos
institucionais. Mas, talvez, tão ou mais importante para o movimento
ambientalista, foi o que aconteceu paralelo à Conferência, nas ruas de
Estocolmo: a marcha de 10.000 pessoas constituindo o Fórum do Povo!
A partir desses marcos, o movimento
ambientalista deslancha até chegar aos tempos das ONGs (organizações não governamentais),
nas décadas de 1980 e 1990, como instrumentos da sociedade civil -- grandes
ONGs como Greenpeace, WWF, Conservation International e a disseminação de
milhões dessas entidades pelo mundo -- e dos Partidos Verdes como instrumentos
de ação política institucional com a bandeira ecologista.
O movimento ambientalista cresceu,
ocupou espaços e se diversificou em muitos “ismos”: ecologismo,
preservacionismo, conservacionismo, ecossocialismo, sustentabilismo,
socioambientalismo, etc., além de ser em grande parte cooptado pelo sistema
produtivo dominante (capitalismo verde?), o que reflete a grande riqueza e
diversidade do movimento, mas que o priva de uma estratégia comum e, talvez,
até da característica de movimento.
No Brasil, o ambientalismo só começa a
ganhar força com o início do processo de redemocratização no final dos anos 70,
quando a sociedade começa a se reorganizar politicamente em partidos e
entidades de representação. Na estrutura da administração pública são criados o
Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA, o CONAMA – Conselho Nacional de Meio
Ambiente, secretarias estaduais e municipais de meio ambiente, e há grande
expansão do número de unidades de conservação. Começam a surgir as grandes –
SOS Mata Atlântica, Ecoar, ISA Instituto Socioambiental – e milhares de
pequenas ONGs. É a sociedade se organizando onde o Estado ainda falha. Na
política institucional surgem dois partidos com a bandeira verde e um terceiro
está surgindo.
Em Votorantim, o primeiro registro de
existência de alguma organização ambientalista data de 1990. O Grupo Ecológico
Cascata Branca foi uma entidade ambientalista formada por estudantes de uma
escola pública de primeiro grau e estudantes universitários. Atuou intensamente
durante os anos 90, 91 e 92, com uma movimentação em prol da implantação do
Parque Municipal da Cachoeira, depois se desarticulou. Mas sua bandeira ainda
tremula!
Posteriormente, surgiram ONGs como a Associação
de Proteção e Preservação Ambiental (APPA), Grupo Interdisciplinar Ambiental
(GIA), ONG Itupararanga, Grupo de Apoio Pedagógico (GAPE) que, juntamente com
militantes ambientalistas independentes, constituíram em 2004 o fórum ambiental
Grupo de Trabalho Ambiental (GTA) Jerivá. A esse grupo se juntaram até o ano
2007 outras entidades, como: Associação Amigos dos Animais de Votorantim (AAAV),
Associação Mato Nativo, Grupo Cascata Branca de Trekking, Instituto Ambiental
para a Proteção Educação e Cultura (IAPEC), Território Animal, Prosa na Serra,
Amainan, além de contar com apoio do Centro de Estudos e Apoio ao
Desenvolvimento Emprego e Cidadanaia (CEADEC) e participação do Grupo de
Escoteiros Vuturaty.
Esse fórum ambiental municipal chegou
a ter a participação de treze entidades ambientalistas, além de militantes
independentes. As discussões desse fórum foram levadas como reivindicação do movimento
ambientalista ao governo municipal. A pauta apresentada foi: criação da
Secretaria de Meio Ambiente, do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, adoção
de uma Política Municipal de Meio Ambiente e revitalização do Parque do Matão. Na
época, o prefeito Jair Cassola, sensível às questões ambientais, assumiu o
compromisso com essa pauta e criou e instalou, em 2005, a SEMA e o COMDEMA no
âmbito da Administração Pública Municipal. Podemos creditar essas conquistas ao
movimento ambientalista em nossa cidade. Posteriormente, com o GTA Jerivá
deixando de ser um fórum e tornando-se uma ONG em 2008 e, com a ida de vários
ambientalistas para a Administração Municipal, houve um certo esvaziamento do
movimento ambientalista local.
No ano de 2011, um grupo de sessenta e
dois ambientalistas de Votorantim subscreveu um manifesto pela unidade na
defesa da causa ambiental em nossa cidade. A partir desse manifesto foi
realizado um encontro, no mesmo ano, com a proposta de se resgatar a ideia do
fórum ambiental, e decidiu-se pela criação de uma entidade que congregasse
ambientalistas e outras entidades locais para a discussão dos problemas
ambientais de nossa cidade e elaboração de propostas e projetos. Foi criada a
Associação Vuturaty Ambiental (AVA), que se consolidou e continua atuante com o
propósito original, congregando ambientalistas e desenvolvendo projetos.
Como vemos, o movimento ambientalista
tem história e conquistas em nossa cidade. E essa história não pode se perder.
E não pode se perder não apenas pelo seu registro, mas porque tem que ter
continuidade!
Elzo
Savella é
professor, historiador, ambientalista, gestor ambiental, mestre em
sustentabilidade. savellax@gmail.com