quinta-feira, 16 de março de 2017

DRENAGEM URBANA E ENCHENTES

Artigo publicado no jornal Folha de Votorantim de 16/03/2017

Elzo Savella

As bacias hidrográficas são os caminhos naturais da drenagem das águas pluviais e das que brotam dos lençóis freáticos através das nascentes. Quando da precipitação das águas das chuvas, parte dessas águas se infiltra no solo alimentando os lençóis freáticos e os aquíferos. Outra parte escoa superficialmente em direção às calhas dos rios tendo sua velocidade controlada pela vegetação, permitindo maior infiltração e evitando a erosão e, consequentemente, o assoreamento dos corpos d’água. Nas estações chuvosas, quando a maior precipitação se concentra em menores períodos e o solo fica saturado de umidade, os corpos d’água transbordam e ocupam suas áreas naturais de inundação: as várzeas. Isso faz parte do ciclo hidrológico.

Com a urbanização e a impermeabilização do solo, o percentual de infiltração das águas pluviais é muito baixo e o maior volume delas corre superficialmente ou pelas galerias, chegando rapidamente às calhas dos rios que têm seus níveis aumentados rapidamente, transbordando. Outra agravante é que as várzeas, que seriam o escape dessas águas, geralmente estão ocupadas por habitações ou equipamentos urbanos. O resultado são as enchentes. Sem falar que, com a remoção da vegetação que protege o solo da erosão e permite maior infiltração, muitas áreas de topografia mais acidentada têm seus barrancos solapados pela água provocando deslizamentos de terra. Temos as áreas de risco.

Localizada aos pés da serra de São Francisco, Votorantim recebe dois importantes corpos d’água que descem a serra e cortam sua malha urbana: o rio Sorocaba e o ribeirão Cubatão. O rio Sorocaba tem seu fluxo e velocidade regulados por quatro represas, sendo a maior delas a de Itupararanga, o que evita, por exemplo, que sua área central, que ocupa uma várzea, seja inundada a cada estação chuvosa. O Cubatão, apesar de ser um corpo menor e de existirem dois pequenos barramentos no seu curso, não tem um controle efetivo de seu fluxo e desce a serra com grande velocidade, buscando ocupar suas áreas de várzea que hoje estão ocupadas pela urbanização. Há uma disputa de espaço entre a cidade e o rio.

Hoje o principal problema de inundação em Votorantim está na região das várzeas do Cubatão, ou seja, nos bairros do Fornazari e Barra Funda, cuja população vem sofrendo mais a cada ano. Votorantim possui um sistema de drenagem razoável, porém já dando sinais de que está ficando defasado diante da demanda. Problema que pode, ou irá, aumentar com a constante expansão urbana acompanhada da impermeabilização do solo.

O que fazer? Algumas medidas são urgentíssimas, outras de curto, médio e longo prazos. São necessárias medidas emergenciais de manutenção, desobstrução e limpeza do sistema de drenagem (bacias de contenção, galerias, bocas de lobo); desassoreamento e aprofundamento das calhas dos córregos, ribeirões e rio Sorocaba; campanha educativa junto à população para o combate da poluição difusa que obstrui as bocas de lobo e galerias; e um efetivo plano emergencial para a Defesa Civil.

No curto prazo duas medidas não estruturais, mas de suma importância, são a atualização do Plano Municipal de Saneamento Básico e a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana, que vão estabelecer as diretrizes, orientações e embasamentos para o redimensionamento do sistema de drenagem e para a redução do risco de enchentes e calamidades. Esses planos devem conter diagnósticos sobre a situação atual do sistema de drenagem e o planejamento de seu redimensionamento e expansão a curto, médio e longo prazos. Mas devem dar ênfase específica a atualização do cadastro das estruturas de drenagem do município; a um programa de fiscalização dos sistemas de Coleta de Esgoto e Drenagem Urbana para coibir as ligações clandestinas na rede de esgoto;  programa de manutenção contínua do sistema de drenagem; programa de recuperação, revegetação e preservação das áreas ciliares (áreas de preservação permanente - APPs); estabelecer políticas públicas habitacionais para as famílias que ocupam áreas de risco. Por fim, como medida estrutural, a melhoria e ampliação do sistema de drenagem urbana com a execução de obras de novas redes, galerias e contenções.

No saneamento básico, a drenagem urbana sempre ficou em segundo plano. Hoje as palavras de ordem para o gestor público quanto à drenagem urbana devem ser planejar e executar, e não ficar dependendo de ações emergenciais e contingenciais ... ou ficar rezando a cada chuva torrencial!


Elzo Savella é professor, historiador, ambientalista, gestor ambiental, mestre em sustentabilidade. savellax@gmail.com

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