Artigo publicado no jornal Gazeta de Votorantim de 25/03/2017
Elzo Savella
O município de Votorantim é cortado em
19 Km de seu território pelo rio Sorocaba, principal afluente da margem
esquerda do rio Tietê. Nas cabeceiras do rio Sorocaba está a represa de
Itupararanga, com uma reserva média de 286 milhões de m³ de água, cuja barragem
e 5% de sua bacia está localizada em Votorantim. Se observarmos o mapa
hidrográfico do município veremos centenas de ribeirões, riachos e córregos
formando dezenas de microbacias hidrográficas. Nascentes perenes, aquelas de
fluxo contínuo que formam corrégos, são 473! Dezenas de belíssimas cachoeiras
demonstram de forma exuberante a riqueza e a força hídrica de nosso município.
Na cidade, 99% da população tem acesso
a água tratada. Quatro estações de tratamento de água (ETAs) tratam e
distribuem até 33 milhões de litros por dia. A coleta de esgoto atende também
99% do esgoto gerado e trata 92% através de três estações de tratamento (ETEs).
Isso representa a quase total despoluição do rio Sorocaba em nosso município!
Existe em nosso município uma
legislação ambiental bem avançada. Entre essas leis, no que se refere a
proteção da água, temos a lei 2060/2009
que dispõe sobre a proteção das nascentes, mananciais e áreas ciliares dos
corpos d’água no município. Uma lei municipal que complementa de forma mais
restritiva a legislação estadual e federal.
Assim exposto nos mapas e números, nos
parece que somos privilegiados, que vivemos em um verdadeiro paraíso hídrico.
Assim foi, e assim ainda deveria ser! Mas não é. Se formos a campo vamos
constatar que, conforme estimativas de estudos já realizados, das 473
nascentes, aproximadamente 20% já desapareceu e com elas seus respectivos
córregos. Os dois principais ribeirões, o Cubatão e o Ipaneminha, tiveram seus
níveis drasticamente reduzidos nas últimas décadas. Importantes córregos, como
o do Itapeva, do Vidal e São João, estão reduzidos a um fio de água e algum
esgoto clandestino ainda. O próprio rio Sorocaba teve sua vazão média histórica
reduzida nas últimas décadas de 11m³/s para 9m³/s em nosso município. Uma
redução de quase 20% no volume de água.
Essa redução da disponibilidade
hídrica tem causas óbvias: desmatamento, impermeabilização do solo, supressão
de nascentes e uso não racional da água. Isso sem considerar as mudanças
climáticas, um fenômeno de escala global de origem antrópica. Os pontos
positivos são os avanços no tratamento do esgoto e algumas ações, ainda
insuficientes, de revegetação, principalmente das áreas ciliares. Mas ainda é
preciso muito mais.
Não bastassem esses problemas locais,
pelos quais somos responsáveis e devemos dar conta, surge agora uma ameaça maior,
de caráter regional. Uma grande empresa quer desenvolver uma atividade
mineradora de extração de areia e argila nas várzeas dos rios Sorocamirim e
Sorocabuçu, exatamente no ponto de confluência desses rios formando o rio
Sorocaba. Pretende-se extrair mensalmente 40 mil toneladas de areia e argila em
uma área de várzea 4 km a montante da represa, colocando em risco as águas
formadoras da represa de Itupararanga. O processo de licenciamento é de
responsabilidade da CETESB, mas a sociedade deve se mobilizar para impedir a
total degradação do rio Sorocaba já no seu marco zero.
Se as atuais políticas públicas, ou a
ausência delas, não estão revertendo a degradação e as ameaças aos nossos
mananciais, cabe à sociedade se mobilizar na defesa de nossas águas.
Elzo
Savella é
professor, historiador, ambientalista, gestor ambiental, mestre em
sustentabilidade. savellax@gmail.com
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