Elzo Savella
Diante
dessas novas responsabilidades colocadas para os municípios pelo novo ordenamento
jurídico surge um problema: qual a importância ou necessidade de se implantar
uma estrutura de gestão ambiental na administração pública municipal? A
hipótese que podemos formular é a de que um órgão de gestão ambiental na
administração pública municipal planeja localmente as políticas públicas na
área ambiental, gerencia as ações e otimiza os resultados, dentro da realidade
e especificidades de cada município. A
partir dos novos marcos legais, e das suas induções à descentralização na administração
pública, podemos afirmar que isso vem de encontro às necessidades dos tempos
atuais de uma gestão mais moderna visando a sustentabilidade, considerando suas
variáveis econômica, social, ambiental e, no caso das cidades, a urbana. E com
essa descentralização administrativa e maior proximidade com as comunidades
locais, estas podem ter maior participação e consciência a respeito da
importância da preservação ambiental para a qualidade de vida.
Nas
administrações públicas modernas, onde, como se disse, a tendência deve ser
cada vez mais a busca pela sustentabilidade, se exige bom planejamento, visão
de futuro, e governança sobre as transformações econômicas, sociais e
ambientais locais. Com uma complexidade cada vez maior, surge a necessidade de
modernização, melhor organização e participação social. E para isso é
imprescindível uma estrutura político-administrativa ambiental.
Considera-se que a composição mínima da estrutura político-administrativa
ambiental seja formada por um
órgão executor que pode ser uma secretaria ou um
departamento, cuja estruturação vai promover a eficiência do processo de gestão
ambiental local e coordenar, preferencialmente de forma integrada e transversal,
a gestão das políticas públicas de meio ambiente; por um conselho de meio ambiente,
onde os atores sociais estejam representados para garantir a legitimidade do
diálogo entre sociedade civil e Poder Público; e por um fundo municipal de meio
ambiente, que vai “carimbar” para a área ambiental os recursos financeiros. E,
a partir dessa estrutura, desenvolver uma Política Municipal de Meio Ambiente que,
comprometida com os princípios da sustentabilidade, potencialize a defesa e a
preservação do meio ambiente local, a inclusão social e viabilidade econômica.
Porém um impasse que se revela quando se analisa os orçamentos e
quadros técnicos na maioria dos municípios brasileiros, diz respeito a
constatação de que esses municípios não dispõem de recursos humanos
especializados para o desempenho de serviços de planejamento, controle e
execução de ações ambientais. A limitada capacidade técnica da maioria das
prefeituras é agravada pela falta de continuidade das políticas públicas quando
das mudanças de governo. Podemos acrescentar a isso o fator financeiro, pois na
maioria dos municípios que, apesar de ter alguma estrutura ambiental na
administração, o orçamento da área ambiental é sempre o menor dentro de
orçamento do município, sendo o suficiente, na maioria das vezes, apenas para
cobrir a folha de pagamento dos funcionários.
Podemos concluir que a
municipalização da questão ambiental é seguramente um passo evolutivo
importante na gestão ambiental descentralizada no âmbito federativo e na
institucionalização da participação social, pois é na esfera local que o
diálogo entre os atores envolvidos, gestores e população, pode reconhecer e
formular respostas aos graves problemas ambientais de nossas cidades. Porém muitos governos municipais ainda
relutam em assumir ou em investir na gestão ambiental pública alegando falta de
recursos e o atendimento de outras demandas mais urgentes, como as da educação
e da saúde, esquecendo que a qualidade ambiental impacta positivamente e diretamente,
de forma transversal, todas as demais áreas da administração pública. E que o meio
ambiente preservado e saudável é qualidade de vida e saúde para as pessoas, ou
seja, reduz a ocorrência de doenças e as demandas por atendimento nos serviços
de saúde.
Elzo
Savella é
professor, historiador, ambientalista, gestor ambiental, mestre em ciências
ambientais. savellax@gmail.com
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