Publicado no jornal Gazeta de Votorantim de 29/11/2014
Elzo Savella
Com a região Sudeste
assolada por uma estiagem jamais vista em sua história e, como consequência, a
crise hídrica que atinge principalmente o Estado de São Paulo, é natural que
nossas preocupações se voltem para o nosso principal manancial: Itupararanga.
De fato, a visão atual do reservatório é aterradora. Podemos estimar o nível em
aproximadamente 40% da capacidade de reservação. É muito baixo, mas segundo os
gestores do sistema está dentro da média histórica.
A estiagem atual pode ser
atípica ou consequência das mudanças climáticas. Ainda não sabemos como o clima
de nossa região vai se comportar nos próximos anos. Mas o que sabemos é que os
problemas em Itupararanga são antigos e crescentes: desmatamento, supressão de
nascentes, ocupação imobiliária, uso inadequado do solo, erosão, poluição,
captação irregular de água, agricultura com técnicas inadequadas. Tudo
contribuindo para a redução da quantidade e da qualidade da água na bacia da
represa. Se isso continuar, com certeza a água vai faltar.
Um número pode comprovar
essa redução do volume de água ao longo do tempo: quando a usina entrou em
operação em 1914, a represa conseguia regular a vazão média do rio em 11m³/s;
hoje a vazão é de 9m³/s, ou seja, houve uma redução de aproximadamente 20% na
“produção” de água. E essa perda deve ser recente, pois até os anos 70 a usina
trabalhava com sua capacidade máxima instalada, “virando” as quatro turbinas. Hoje
é difícil ver mais que uma turbina trabalhando. Não há água suficiente.
Algumas medidas foram
tomadas por parte do Estado: criação da APA – Área de Proteção Ambiental de
Itupararanga em 1998; a instalação do Conselho Gestor da APA em 2004, que na
prática é um fórum de discussão dos problemas de Itupararanga; aprovação do
Plano de Manejo em 2011, que é uma espécie de plano diretor da área. Mas tudo
isso parece ficar só no papel e em reuniões. Pouca ação concreta resultou dessas
iniciativas que trouxesse resultados efetivos para a proteção dos recursos
hídricos como se pretendia. Efetivamente, apenas o Município de Votorantim vem
desenvolvendo ações de reflorestamento das áreas ciliares da represa em seu
território.
Recentemente, nos anos de
2012 e 2013, um grupo de pesquisadores e ambientalistas realizou um amplo
diagnóstico das condições de conservação da APA. A constatação, além dos
problemas já citados, foi a queda da qualidade das águas, já acusada
anteriormente pela CETESB, que oscilaram entre regular e boa.
Como vimos, as causas do
problema todos nós sabemos. As soluções também: reflorestamentos, proteção das
nascentes, uso ordenado do solo, redução da perda de água na rede de
distribuição, fiscalização, uso racional, enfim, sabemos o que fazer. Só preocupação
não basta, são necessárias ações concretas que tragam resultados. Mas quem deve
fazer? Sem dúvida cabe ao Poder Público, estadual e municipal, executar as
ações que dependem de recursos, mas cabe principalmente à sociedade compelir os
governos para que se movam nesse sentido. Somente uma ampla mobilização da
sociedade criará as condições para que se inicie um processo com a participação
de todos os atores interessados e responsáveis pela conservação de Itupararanga
com resultados realmente concretos.
Elzo
Savella é
professor, historiador, ambientalista, gestor ambiental, mestre em
sustentabilidade, membro do Conselho Gestor da APA de Itupararanga. savellax@gmail.com